Ao falarmos de corpo e educação é possível que pensemos:
-Mais uma vez vamos ter de ouvir esta conversa de que a
Escola só trabalha o intelecto e deixa o corpo de fora. Quem é que não sabe que
é preciso respeitar o corpo da criança?
Parece incrível, porém apesar de todos nós sabermos disto,
poucas mudanças aconteceram nos últimos tempos. As crianças continuam sendo
submetidas a horas de absoluto controle corporal, com algumas oportunidades de
movimento monitoradas pelo educador, não só em relação à quantidade de tempo,
mas também quanto ao tipo de movimento a ser executado.
É importante que tentemos entender o porquê disto.
Se formos professores bem intencionados, se tentamos sempre
estudar mais e saber quais as melhores propostas de educação porque continuamos
insistindo em uma prática que sabemos ser ruim para nossos alunos? O que
entendemos por educação? Como acreditamos que o ser humano se educa, aprende?
Nos últimos séculos, o pensamento científico passou a ser o
grande herói do cenário educacional. Aquilo que era comprovado pelas ciências
naturais possuía um valor muito maior do que as afirmações das ciências humanas.
O raciocínio torna-se o componente mais importante na relação ensino
aprendizagem e, o corpo passa a ser apenas um coadjuvante, um auxiliar que leva
e traz a mente aos lugares onde ela precisa estar para aprender. A eles ficam
destinadas as atividades que não são consideradas sérias, as brincadeiras e os
trabalhos menos nobres, aqueles que dispensam raciocínio e que não são
socialmente valorizados. Este foi o modelo que constituiu a formação das Escolas,
dos alunos e dos professores nos últimos séculos e que ainda permeia nossa
atual concepção de educação. Apesar das mudanças que aconteceram através das
diferentes tendências pedagógicas, a escola que temos hoje continua valorizando
mais o trabalho mental do que o corporal. Aquela vida ativa onde o diálogo com
o mundo, a descoberta, a interação eram feitas de corpo e alma fica interrompida
nos portões da escola. Nela não há espaço para isto, pois nesse modelo de escola
é preciso controle e imobilidade para que a mente possa aprender. Merleau Ponty
nos afirma que nós não temos um corpo, nós somos um corpo e que este dialoga
com o mundo através de sua presença nele.
Partindo dessas reflexões percebo o quanto é importante que
o professor VIVENCIE seu próprio corpo, perceba-se enquanto ser corpóreo e
tente relacionar estas experiências com a de seus alunos para quem sabe melhor
entende-los e entender a si próprio.
Maurice Tardif (2001) NOS AFIRMA QUE PROFESSOR SE FAZ
PROFESSOR a partir de diferentes fontes de aquisição do saber. Para ele não somente
através do ensino formal, de estudar para ser professor nos cursos do
magistério ou nas licenciaturas que aprendemos a sê-lo Nos formamos professores
também através de nossa experiência enquanto pai, filho ou enquanto aluno. Da
aprendizagem que tivemos com nosso antigo professor que amávamos ou detestávamos
dos filmes a que assistimos ou dos livros que lemos. Também contribuem para
nossa formação aquelas conversas que temos com nossas colegas também educadoras
que muitas vezes nos ajudam resolver problemas de sala de aula com suas
próprias experiências. E as nossas experiências docentes? Quando refletidas,
pensadas, analisadas não se tornam nosso repertório de ações? A nossa formação
é permanente e pessoal, é de todas estas fontes que bebemos para nos fazer educadores.
Reflito, então sobre minhas experiências formadoras e quando relembro da
infância e da escola os melhores momentos estão relacionados com o aprender de
corpo e alma. Lembro do recreio, das correrias, do brinquedo de paralítico, da amarelinha,
das cantigas de roda. E em sala de aula os raros momentos em que podíamos levantar
caminhar entre as classes, conversar com os colegas para construir algum
conhecimento ficaram em minha lembrança. Eles normalmente aconteciam em dias de
chuva em que não podíamos sair para a rua e a professora dava atividades
recreativas.
Se ela soubesse que talvez tenhamos aprendido mais ali do
que no restante do ano...
Surgem também lembranças ruins, mas que com certeza, também
me constituem professora: a fila indiana em absoluto silêncio, a terrível
vontade de ir ao banheiro e o medo de não aguentar até a hora permitida para
isto (quantos coleguinhas passaram pela vergonha de fazer xixi nas calças e
ainda serem xingados).
Havia também à vontade de abraçara professora para ver se diminuía
a saudade que sentia da minha casa e de minha mãe, e como era gostoso aquele
abraço carinhoso cheio de afeto.
Hoje, quando vejo uma nova professora se apresentando na
escola para trabalhar, logo a imagino cercada pelos pequenos querendo tocá-la,
beijá-la, brincar e rolar com ela, me pergunto se ela estará preparada para
esta experiência, se ficará feliz em dividir-se em tantas.
Autores como Lapierre, Aucouturier, Negrini, Falkenbach
acreditam que o professor deve participar de vivências corporais para
reconstruir seus processos sensórios-emocionais, e a partir delas poder afastar
seus fantasmas pessoais, elaborar suas experiências anteriores, adquirir
condições de dar seu corpo à criança e permitir que ela inclua sua corporeidade
na relação ensino aprendizagem.
Estas vivência s devem e podem ser feitas entre adultos, através
de dinâmicas que possibilitem a expressão, movimento, o toque, o diálogo
corporal, o resgate do prazer de brincar, do sentir e devem ser seguidas d um
momento de verbalização, onde cada um possa falar de suas sensações e dos
sentimentos suscitados em cada momento.
O professor deve ser sempre um aluno, estar sempre
aprendendo com suas experiências e com as trocas que faz com seus educandos e a
partir destas reflexões construir novas práticas docentes.
ARTIGO EM CONSTRUÇÃO...