segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Quando o corpo somatiza os conflitos da mente





Descartes, no século XVIII, dizia que as funções mentais eram separadas do corpo, mas essa idéia acabou sendo substituída pela afirmação de que o corpo é o receptáculo das experiências físicas e emocionais vividas por todos nós desde a gestação até a morte.
Hoje não é novidade alguma que os estados psíquicos como estresse, depressão, ansiedade, medo, raiva, etc, favorecem o desenvolvimento e/ou a manifestação de doenças orgânicas como úlceras, colites, problemas cardíacos, alergias, doenças da pele e até mesmo o câncer. Desde a época de Hipócrates acreditava-se que a mente e o corpo influenciavam-se mutuamente.
Apesar dessa relação ter sido rejeitada
durante anos pela medicina e negligenciada pela própria psicologia, acabou tornando-se uma das mais fascinantes áreas de pesquisa que  tem estudado os distúrbios psíquicos e os problemas que estes causam no corpo.
O corpo não é mais considerado um depositário da alma, como se propunha na idade antiga.  Mesmo no útero o  feto comunica-se e faz contato com a mãe  e com o mundo que o rodeia, sentindo e respondendo aos estímulos do meio, principalmente aos estresses, que vão sendo registrados e permanecem ancorados na memória  sensorial, celular.
Mais tarde, esses registros podem vir à tona e trazer como conseqüência a manifestação de inúmeras doenças.
A memória é a faculdade de se representar o que foi vivido, sentido e
aprendido no passado de uma pessoa. É uma função cerebral superior que surge como um processo de retenção de informações no qual nossas experiências são arquivadas e recuperadas quando as chamamos. Portanto, a memória forma a base para a aprendizagem, que é a
aquisição de novos conhecimentos.
Mas existem diferentes tipos de
memória, que variam em sua complexidade: química, visual, olfativa, auditiva, tátil, etc.
Basicamente podemos classificá-las em dois grupos:

1) a memória intelectual, localizada na mente ;
2) a memória sensorial, localizada no corpo.

Não existe uma área específica do cérebro ou do corpo em que a memória fica armazenada.   Ela é um fenômeno  sensorial,  energético, celular,
biológico e psicológico que envolve vários sistemas neuropsicofisiológicos que funcionam em conjunto. Tanto a mente quanto o corpo  não  são apenas  um agrupamento de órgãos, músculos e ossos,
regidos por leis da mecânica, da termodinâmica ou outra qualquer,  mas
são conjuntos de células e tecidos, regidos principalmente por leis energéticas e neuropsicofisiológicas.
Mente e corpo  são permeáveis às impressões físicas, cognitivas e
psicológicas e interagem entre si. A mente agrupa as informações intelectuais e mesmo em suas manifestações mais abstratas, não é separada do corpo, mas sim, nascida dele e moldada por ele.
O corpo, por sua vez, contém a história  de uma pessoa  de forma que mudanças psíquicas são condicionadas pelas mudanças também nas funções
corporais. Isso explica as diferentes posturas corporais e distintos comportamentos apresentados pelas pessoas, onde cada um possui uma forma muito particular de ser e de agir. Essa é a expressão do
caráter. O corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona e expressa  os conflitos emocionais da mente, corporificados nos tecidos celulares, refletidos na qualidade do tônus muscular, expressões faciais, ritmo respiratório, postura, tom de voz, etc.
Portanto, nosso  corpo  é moldado de acordo com as experiências vividas,principalmente  aquelas ocorridas na primeira infância, quando as formas que encontramos para nos defender ainda são precárias. Esses acontecimentos muitas vezes deixam marcas profundas e irreversíveis.
Portanto, constantemente somos confrontados com dois caminhos: ouvir nosso corpo e deixá-lo falar em seus desejos e expressar suas angústias ou submetê-lo aos estresses físicos e psicológicos diários que a vida nos traz, formando assim as couraças.
A Psicologia Corporal se dedica a estudar as manifestações comportamentais e energéticas da mente sobre o corpo e do corpo sobre a mente, tratando-as em seu conjunto e em sua relação funcional. Tem por objetivo reencontrar a capacidade do ser humano em regular a sua própria energia e, por conseqüência, seus pensamentos e emoções.
Suas raízes encontram-se nos trabalhos desenvolvidos por Wilhelm Reich
(1897-1957), médico austríaco que abandonou a técnica da psicanálise quando descobriu que o corpo contém a história de cada indivíduo e é por meio dele que devemos resgatar as emoções mais profundas restabelecendo a mobilidade biopsíquica através da anulação e/ou flexibilização das couraças, armaduras emocionais e musculares que
funcionam como defesa. (Volpi, 2002).
Reich (1995) não foi o primeiro cientista a reconhecer a fundamental
importância dos meios não-verbais de comunicação, mas foi o primeiro a mapear as regiões do corpo humano onde se localizam as emoções. Na pele e nos olhos, encontramos o medo. Aí a expressão de olhos arregalados ou as alergias como, por exemplo, a urticária, quando
estamos temerosos ou assustados por algum motivo. Na região da boca,
encontramos a raiva, característica do bruxismo.
No pescoço é onde se localiza a arrogância e o controle e por isso, pessoas narcisistas ou controladoras apresentam um bloqueio nessa região e como manifestação somática encontramos, por exemplo, o torcicolo. O peito é a região do afeto e é onde se localizam as emoções do amor e do ódio que quando entram em conflito, trazem a angústia que por sua vez contribui para a manifestação dos problemas cardíacos e pulmonares.
O diafragma é a região onde se localiza a ansiedade, típica de pessoas
agitadas, trazendo como manifestações somáticas a gastrite, úlcera, problemas renais, etc. No abdômen encontramos a impulsividade  e como manifestação somática a constipação. A pelve é a região do prazer, cujo bloqueio responde pela impotência, frigidez, vaginismo,
etc. O corpo não esquece. Tudo o que foi vivido durante a infância, através de sensações, permanece registrado. A somatização é uma forma de comunicação desses registros ancorados no corpo.


0 comentários:

Postar um comentário

newer post older post Home